quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHERES E ESTRELAS

MULHERES
E ESTRELAS
Edmilson Sanches
Há algo de diferente, muito diferente, no espírito feminino. As mulheres têm uma capacidade de suportação, de resignação e resistência que transcende a imaginação e a perplexidade do homem.
As mulheres merecem mais, muito mais: mais poder, mais participação, mais reconhecimento. As mulheres são melhores.
Tem algo de múltiplo e vário na singeleza da mulher, de arrebatador em sua beleza, de premonitório em seu olhar, de indecifrável no seu ser, de irresistível em sua sedução. Talvez porque não haja um homem que, no íntimo, não se quede ante esse poder invisível, invejável, de que foi dotada, às escondidas, a mulher: o poder e a resistência, a sedução e o encantamento femininos --- ante os quais impérios ruíram e também se alevantaram, vidas se ergueram e igualmente tombaram, fracos se fortaleceram e heróis se acovardaram...
Sim... Seja à frente de reinados ou nos bastidores de residências, sentadas em tronos como rainhas reais ou em pé em casa como rainhas domésticas, as mulheres têm, escondido ou explícito, um poder diferente, uma força indescrita, um segredo indescoberto, um mistério não revelado.
Mulher. Mar pouco navegado. Mata pouco desbravada. Alma quase nunca compreendida. Sentimentos quase sempre pouco correspondidos. Desejos simples contrafeitos. Vontades abissais insatisfeitas.
Uma mulher não é só um corpo, embora, mesmo quando acompanhada, seja muitas das vezes uma alma só. Sozinha. Solitária.
Mulher -- usada e ousada. Mulher -- cifrada e indecifrada. Mulher -- que acomoda e incomoda. Mulher -- citação e excitação.
Se o homem foi feito do barro, as mulheres foram esculpidas em pó. Pó de estrelas.
Por isso brilham. Por isso luzem. Por isso ofuscam. Por isso reinam. Por isso voam.
Ave, Maria!
Ave, mulher! (Edmilson Sanches)
MULHER, MATRIZ DO HOMEM E DO MUNDO
Foram necessários séculos de sangue, suor e saliva, isto é, muita luta, muito trabalho e muita conversa, para que as mulheres conquistassem espaços como o de, no interior da machista região Nordeste, um Poder Público homenagear aquelas a quem, antes, no Brasil e no Mundo, sequer era conferido o direito de ser pessoa com direitos. Até há bem pouco, neste País, as mulheres eram classificadas na mesma categoria dos loucos e dos índios. Ou seja, as mulheres eram legalmente incapacitadas.
Por isso, é diferente o quadro que hoje se apresenta: se ontem as leis apartava as mulheres e as marcava como gado, hoje os próprios Poderes que fizeram essas leis penitenciam-se pela miopia política, pelo estrabismo cultural, pela estreiteza ética e, até, pela violência física com que maltratavam as mulheres e as vitimavam.
I
Foram séculos, milênios, de exclusões de toda sorte que o Mundo viu e a História registrou, em desfavor das mulheres.
Por isso, não basta que avance a vontade dos legisladores. É imperativo que também progrida a racionalidade dos homens. Pois estes, em seus milenares papéis de donos, administradores, condutores de coisas e causas ainda teimam em exercer funções e exercitar ações que tentam, a todo instante, provar que alguns homens são mais animais que racionais.
II
Para que não haja regressão, impõe-se que a mulher assuma por inteiro seu papel de cidadã –– crítica, consciente, exigente.
Para homenagear uma mulher, já não basta realçar sua doçura, candura, ternura, abnegação, capacidade de suportar. Essas qualidades são inatas nas mulheres. Desse modo, em uma homenagem às mulheres, não é suficiente falar do que elas são, mas do que querem ser, do que pretendem fazer, onde pretendem estar.
III
À mulher de hoje não mais lhe basta ser apenas a poesia da vida –– até porque a vida não é só poesia. Nas intenções e pulsões de um homem, a mulher até pode ser um ser dos nossos sonhos. Mas a melhor parte da vida vive-se acordado. Portanto, a mulher é um ser da realidade. E ela sabe que amor rima com flor e também com dor. Que inocência faz verso com consciência, mas seu reverso pode ser violência. Que a prostituta que pariu a rima conduta muito antes ficou grávida da rima luta. À mulher de hoje não basta rimar coração com emoção: também existe a palavra ação.
Tudo isso, e muito mais, porque a mulher quer ter orgulho e prazer de (re)construir o mundo ao lado da maior obra que ela gerou: o homem. (Edmilson Sanches)
"METADE DO MUNDO É DE MULHERES. A OUTRA METADE, DE FILHOS DELAS."
O ANTES E O DEPOIS
(EDMILSON SANCHES)
Antes da casa, o projeto.
Antes do edifício, a maquete.
Antes do engenheiro, o arquiteto.
Antes do filme, o roteiro.
Antes do sonho, o sono.
Antes do sono, a estória.
Antes da publicidade, o story.
Antes da venda, o anúncio.
Antes da tragédia o prenúncio.
Antes do sangue, o estampido.
Antes da ajuda, o alarido.
Antes da bala, o bandido.
Antes da pintura, o bosquejo.
Antes do repouso, o bocejo.
Antes da realidade, o desejo.
Antes de estar -- ser.
Antes de imprimir -- escrever.
Antes do papel, a árvore.
Antes da árvore, a semente.
Antes da semente, o semear.
Antes do “B”, o “A”.
Antes da fala, o pensamento.
Antes daquele instante,
aquele momento.
Antes da rubrica, a assinatura.
Primeiro, o Criador; depois, a criatura.
Antes, natureza; depois, cultura.
Antes da caminhada, o caminho.
Antes do filhote, o ninho.
Antes das passadas, um passo.
Antes, penso; depois, faço.
Primeiro, minério; depois, aço.
Antes de falar -- ouvir.
Antes de chegar -- ir.
Antes da pele, o sangue.
Antes do mar, o mangue.
Antes da obra, o rascunho.
Antes do templo, o exemplo.
Antes da escultura, o modelo.
Antes do desenho, o esboço.
Antes do velho, o moço.
Antes do castelo, o fosso.
Antes de rainha, princesa.
Antes de reinar, nobreza.
Antes da lágrima, a dor.
Antes da entrega, o amor.
Antes do preço -- valor.
Antes de Cristo, Maria.
Antes da Paixão, a traição.
Antes da cruz, a humilhação.
Antes da morte, o perdão.
Antes da loucura, a razão.
Antes do milagre, a oração.
Antes da oração, a fé.
Obra feita -- o homem.
Obra perfeita -- mulher.

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